arquivo público, 2022
bill or
cômodo 1 - introdução
o conto começa com a escrita dele e ele foi escrito para ser contado por isso é um conto mas não por ser um conto que é de terror isso não é um conto de terror ou às vezes a janela do segundo andar da casa burghardt fica aberta e alguém precisa fechar e depois que fecha existe o conto que precisa ser contado que é isso aqui que acontece agora e que aconteceu há dois anos ou cento e vinte anos atrás existiu um momento na história em que duas pessoas se casaram e o marido mandou construir uma casa na beira do rio itajaí açu e morreu logo depois deixando a casa para sua esposa que morou lá até o fim da vida isso não é um conto de terror mesmo que alguém não só sabe como disse para outro alguém que a esposa nunca pode engravidar porque o marido bateu nela até tal ponto e isso sim é um conto de terror e você só sabe disso porque a janela do segundo andar da casa burghardt esteve aberta há dois anos atrás e ela foi construída cento e vinte atrás a casa já foi muita coisa e ainda continua sendo embora não pareça muito embora suas portas fechadas esse ano essa casa mesmo sendo pública talvez não se abra e isso é um conto de terror mas tudo isso não é um conto de terror ou às vezes a janela do segundo andar da casa burghardt fica aberta a casa já foi de comércio já foi empresa telefônica restaurante bar confeitaria fundação cultural viação já sediou batalhão e obras hoje a casa é uma galeria ou era uma galeria isso às vezes vira um conto de terror mas isso não é um conto de terror embora talvez também pareça quanto tempo tem o início de um conto? aqui parece um bom tamanho pro início de um conto que não é de terror? em algum lugar ele disse que um conto precisa ter (cômodo 1 ou) introdução - o momento em que se apresentam as personagens tempo e espaço da narrativa (cômodo 2 ou) conflito (cômodo 3 ou) desenvolvimento do conflito (cômodo 4 ou) clímax e (cômodo 5 ou) desfecho e se alguém algum dia escreveu sobre isso eu agora sigo essas ordens então as personagens disso que não é um conto de terror são: a mulher ou a esposa o homem ou o marido o outro homem ou o segundo marido eu ela ele o da casa brasileira e você todas personagens citadas nesse conto que não é de terror ou às vezes a janela da casa burghardt fica aberta coexistem em uma linha apesar deste texto não ter linha este texto são caracteres em uma tela e o tempo da narrativa é hoje agora dois anos atrás ou cento e vinte anos atrás e o espaço é aqui ou na casa burghardt que deveria se chamar burkhardt mas em algum momento na história começaram a chamar o segundo homem de burghardt mesmo sendo burkhardt e isso aconteceu porque tinha um outro homem que eu não citei naquele momento em que falei sobre as personagens ou até agora no texto esse outro homem que não é o outro homem que também é o segundo marido é um outro homem que apenas influenciou para que o outro homem ou o segundo marido fosse chamado pelo nome do outro homem que eu esqueci de citar na hora que citei as personagem esse outro homem que não o segundo marido da esposa que ficou com a casa este outro homem morava nessa mesma rua que ficava a casa burghardt que na época não era conhecida como casa burghardt nesta rua ou na lauro müller ficava a casa deste outro homem que não o segundo marido que chamava burghardt então começaram a chamar o segundo homem o segundo marido de burghardt mesmo sendo burkhardt e assim foi indo e algumas coisas às vezes não fazem sentido nos contos como por exemplo o segundo marido era conhecido como alemão da luz mesmo sendo russo ele trabalhava numa empresa de luz mas era russo e não alemão e o sobrenome era burkhardt e a casa chama burghardt mesmo também que não tenha sido ele quem construiu a casa que tem hoje o seu sobrenome que nunca foi realmente seu sobrenome ou que passou a ser seu sobrenome depois que as pessoas começaram a chamar assim ele o segundo homem casou com uma mulher a mulher a esposa e antes viúva que ficou com a casa depois que o primeiro marido morreu
(talvez aqui inserir a história do primeiro marido que bate nela grávida e falar que isso é um conto de terror)
a mulher foi popularmente conhecida como dona cachorrinha e antes de saber seu nome de batismo eu soube seu apelido mesmo depois de mais de cinquenta anos de sua morte dona cachorrinha ainda era chamada de dona cachorrinha e a chamavam assim porque o sobrenome de seu primeiro marido era hundt e depois que se casaram seu nome passou a ser mathilde hundt e hundt em alemão é cachorro e agora talvez faça sentido o porque de dona cachorrinha ser chamada assim a primeira vez que ouvi falar sobre dona cachorrinha foi alguém mencionando sua presença mesmo depois de morta na casa burghardt alguém dizendo que o fantasma de dona cachorrinha andava pelos cômodos daquele casarão desde então todos os barulhos que eu ouvia no segundo andar da casa burghardt enquanto eu estava no primeiro andar eu sabia de imediato ser dona cachorrinha mesmo não acreditando em fantasmas ela a mulher ou mathilde bauer se casou cedo com ele o homem ou primeiro marido harry hundt e logo virou dona cachorrinha seu primeiro marido não viveu muito ele mandou construir um casarão na beira do rio que fosse um comércio e uma residência e logo em seguida morreu e a casa ficou inteirinha para dona cachorrinha mas antes de morrer em algum contexto que nem precisa ser precisamente detalhado ele bate na esposa de uma forma tão violenta que ela nunca mais pode engravidar e isso sim é um conto de terror mas não descobri porque alguém me contou não soube disso da boca de alguém não foi uma história contada foi uma história lida em um documento na casa lins eu descobri isso em uma das minhas visitas ao centro de documentação e memória histórica de itajaí procurando saber mais sobre a casa burghardt e mathilde e sobre a casa existem pastas e pastas e documentos e documentos e fotos e fotos mas sobre mathilde apenas seu atestado de óbito e um texto com seis páginas sobre a história dela e é nesse texto construído a partir de conversas com familiares que é dito sobre essa agressão em um pequeno trecho de duas ou três linhas com correções ou anotações à lápis
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